Todos somos criativos, gostamos de inovações, mas não abrimos mão de “coisas do passado”: é a receita da vovó, os causos do vovô, detalhes na decoração da casa, que lembram a mãe. Enfim, se pensarmos um pouco vamos descobrir algo em nós que talvez ainda não tenhamos percebido, e que até contestamos: o saudosismo.
Isso não é mau, não.
Os valores cultivados por nossos avós e pais tinham um cheiro de pureza, de amizade, de alegria, de sinceridade, de amor fraternal.
Lembro-me do fio de bigode, que valia mais que a assinatura em cartório; hoje, nem esta é respeitada. Os homens tinham caráter: era sim, sim; não, não. Honrava-se a palavra dada.
As mulheres tinham recato: o tom da voz era comedido; gargalhar em público nem pensar!
Pai e mãe eram respeitados e ouvidos; suas normas não eram questionadas. Simplesmente, obedecia-se. Os filhos tinham ciência de que estavam sendo preparados para caminharem por conta própria. Precisavam aprender a obedecer para entender o que significava mandar.
E quem foi filho nessa época sabe que, por mais que, no íntimo, se sentisse um pouco prisioneiro da família, não se rebelava, porque havia respeito, gerado pelo amor, naquele ambiente. Só mais tarde, homens e mulheres com responsabilidades familiares, viriam a entender seus pais.
Pena que nem todos aprenderam a ser pulso forte, a ter voz de comando amoroso, mas firme, e se deixaram dominar por filhos que se consideram donos de si, autoritários, mas que não sabem sequer a diferença entre ser criança, adolescente, jovem, adulto.
Antes a família era aquele agrupar-se na confortável sala de estar, ou ao redor de um fogo de chão, para ouvir conselhos dos mais velhos, ou histórias de vivência real ou da imaginação. E quanta imaginação havia. Mães que não sabiam ler, mas eram exímias contadoras de histórias. Os pais, mesmo nunca tendo ido à escola, eram eficientes matemáticos e conselheiros; suas histórias tinham fundo mais real, pois narravam suas experiências de luta e de trabalho, e retransmitiam o que haviam aprendido com seus próprios pais e avós.
Hoje, com tantas facilidades – o livro, a TV e a internet, e com tantas igrejas, de diferentes denominações, doutrinas e costumes, percebe-se, em muitas situações reais, e por ouvir falar, a família como um amontoado de ideias contraditórias, interesses desencontrados, individualismos doentios.
Nisso, o que nos tranquiliza é que ainda há esperança, afinal, a Família é projeto de Deus; não pode estar perdida de vez.
O homem deve, sim, olhar para o passado, não para mudá-lo – isso não é possível, mas para buscar conhecimento, nos velhos ensinamentos, e para descobrir onde esqueceu o pulso forte que seu pai lhe ensinou a usar. Após isso, olhar para o alto, e fazer como o rei Salomão: pedir sabedoria ao Senhor, e passar a exercer, realmente, o seu papel de criatura, idealizada e criada por Deus, para comandar, com amor, todos os demais seres, e principalmente, ser o pai que todo filho gostaria de ter para aprender a ser.